Nosso retiro espiritual congregacional, na Serra da Piedade, em julho deste ano, orientado pelo Frei Luiz Carlos Susin, OFMCap, nos ajudou a rever e refletir, a meu ver, sobre dois pontos principais: Sermos guardiães da fraternidade e Peregrinos de esperança.
Jesus admoesta aos seus discípulos que seu caminho precisa ser revestido do amor fraterno: “Todos vós sois irmãos” (Mt 23,8). Essa recomendação de Jesus precisa ocupar os primeiros lugares de nosso projeto de vida cristã. O fratricídio original (Abel e Caim) foi o pecado que marcou a humanidade ao longo da história. Jesus veio nos restaurar. Derrubou o muro da inimizade com sua própria vida e nos reconciliou entre nós e com o Pai (cf. Ef 2).
Se o cristão não deve nada a ninguém senão o amor fraterno (Rm 13,8), significa que nossa primeira tarefa é construir fraternidade. E assim amamos a Deus. É mentiroso quem diz que ama a Deus se não ama os irmãos (cf. 1Jo 4,20).
Nesse amor fraterno vivemos a filiação divina, cujo penhor nos foi dado pelo Filho amado do Pai, Jesus Cristo Senhor Nosso (cf. Mc 1, 9-11). Deve ser um zelo permanente pela fraternidade como missão, no exercício da primogenitura em defesa dos irmãos e irmãs, refazendo assim o caminho perverso feito por Caim.
Para celebrar o Ano Santo de 2025 o Papa Francisco nos convida a sermos peregrinos de esperança. Esse peregrinar se faz de mãos dadas com a fé e a caridade para superar o mal, o desânimo, o desespero, cultivando a esperança como dom e virtude a praticar pelos princípios da misericórdia e da libertação.
A esperança é uma virtude teologal. Um dom que nos é dado pelo Pai. Uma graça para nos ajudar a caminhar na “penumbra da fé” e praticar a caridade que “perdoa uma multidão de pecados” (1Pd 4,8). Um dom gratuito que deve ser fortalecido pelo exercício permanente da confiança de que o Pai não abandona o justo ao poder da morte.
Nesta confiança os santos caminharam, não obstante as dificuldades e entreveros da vida. As palavras de Paulo “a esperança não decepciona” (Rm 5,5) podem nos fortalecer a continuar caminhando em meios às lutas e desencantos da vida. A esperança é a virtude do amanhã, da aurora. Por isso é chamada por C. Peguy de “menina”.
Anda de mãos dadas com a fé e a caridade. Sem a esperança a fé e a caridade enrijecem e morrem. Sem o horizonte da esperança entramos em decadência.
Talvez seja a virtude que mais precisa ser trabalhada e rezada por nós nesses tempos difíceis de escuridão, de angústia, de perda de sentido e de horizonte acinzentado.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN