Este é o método usado pelos delegados do Sínodo da Sinodalidade em Roma. Um método de discernimento comunitário baseado na oração e na escuta. “A escuta sinodal tem em vista o discernimento... Escutamo-nos uns aos outros, a nossa tradição de fé e os sinais dos tempos, de modo a discernir o que Deus está a dizer a todos nós”, diz um manual oficial para a primeira fase diocesana do processo sinodal de anos, que começou em 2021 e terminará em outubro de 2024.
“Na sua realidade concreta, o diálogo no Espírito pode ser descrito como uma oração partilhada em vista do discernimento comunitário, para o qual os participantes se preparam por meio de reflexão e meditação pessoal”.
O Pe, Anthony Lusvardi, jesuíta e professor de teologia sacramental na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, ao qual pertence ACI Digital, que o discernimento comunitário foi desenvolvido pela primeira vez há várias décadas pelos jesuítas no Canadá, razão pela qual ele o chama de “modelo canadense”.
A ideia do discernimento comunitário, disse Lusvardi, é que “em vez de apenas iniciar a discussão de um assunto, como pode acontecer em qualquer reunião de negócios, os participantes reservem um tempo para orar individualmente em silêncio. Depois voltarão a ficar juntos e cada um partilhará o fruto da sua oração, enquanto todos os outros ouvirão sem interrupção”.
“Depois de todos terem tido a oportunidade de falar, pode haver uma segunda rodada de partilha, onde as pessoas descrevem as suas próprias reações ao que os outros partilharam”, disse. “Esta não é uma discussão de questões – portanto não é um momento para expor divergências – mas uma partilha dos próprios movimentos interiores. A ênfase está na compreensão mútua antes de buscar uma ‘solução’ para os problemas.”
Há um facilitador que garante que todos compartilhem e que ninguém fique para trás.” Na primeira rodada, cada pessoa fala sobre a sua “própria experiência, a sua própria perspectiva”. Na segunda rodada, os membros sinodais falam novamente com base no que ressoou com eles a partir do que outros disseram na primeira vez. E durante a terceira rodada, o grupo explora “convergências, divergências, questões a serem exploradas, talvez ações a serem tomadas”.
Este processo envolve também momentos de silêncio para oração pessoal e reflexão sobre o que foi ouvido.
“Uma das características distintivas do método [de discernimento comunitário] é a ênfase que coloca na escuta”, disse Lusvardi.
Como todos têm a oportunidade de falar e de serem ouvidos – algo que pode ser incomum num mundo muito barulhento – o efeito pode “quase ser terapêutico”, disse o padre.
O método pode ser útil para estabelecer um bom tom entre os participantes de uma reunião. E num ambiente paroquial ou diocesano, dedicar tempo à oração sobre um assunto antes de partilhar os frutos dessa oração – “antes de mergulhar nos detalhes mais concretos” – também pode ser útil.
O jesuíta disse que também vê algumas desvantagens no método.
“Fazer isso exige um pensamento crítico, que pondere os prós e os contras do que as pessoas dizem. Também requer um grau de objetividade que este método não é adequado para fornecer”, disse. “A sã teologia precisa sempre fazer a pergunta: 'Isso pode parecer bom, mas é verdade?'”.
O método de discernimento comunitário enfatiza a compreensão mútua, por isso pode ser mais difícil colocar a questão sobre se o que alguém diz é verdade.
“Às vezes as pessoas têm ideias prejudiciais; embora possa ser útil ouvi-los, em algum momento é irresponsável e pouco caridoso não corrigir o dano”.
E o método não pode substituir a evidência empírica, a revelação ou o ensinamento da Igreja.
“Se algo é pecado, você não discerne se deve fazê-lo ou não”, disse Lusvardi. “Se você assumiu um compromisso, você não discerne se deve ser fiel a ele ou não. Você só discerne entre coisas que são boas”.
“Se tudo o que lhe ocorre em oração contradiz o que foi revelado por Jesus Cristo, então não é obra do Espírito Santo”, disse.
“Portanto, este método pode ser usado como uma forma de ajudar um superior a compreender os homens que ele lidera e a trazer à tona alguns dos sentimentos e preocupações que cercam as questões em discussão, mas ainda é o superior quem toma a decisão”, disse o sacerdote.
Hannah Brockhaus, jornalista correspondente da CNA em Roma (Itália).
* Esta matéria é um resumo do artigo de Hannah.
Além do Sínodo, o método será usado na Assembleia Diocesana de Caratinga nos dias 29/07 a 01/8.